Era uma vez, no tempo em que os bichos falavam...
No meio da floresta havia uma fonte de água muito limpa, onde os bichos iam beber quando estavam com sêde e se refrescar nos dias de calor. Todos eram muito felizes.
Um certo dia tudo mudou. Quando alguns bichos chegaram na fonte, encontraram uma onça bem grande que foi logo dizendo: - A fonte agora é só minha. Só eu posso tomar banho e beber nesta fonte. Se algum bicho me desobedecer eu o comerei! E soltou um urro tão grande que todos fugiram depressa.
Passaram dois dias. Estavam todos tão tristes... e muito sujos... e com sêde, quando apareceu o coelho e disse: -Vou lá enganar a onça! O coelho encheu um saquinho com areia fina e foi para a fonte. Quando chegou fingiu que estava mastigando alguma coisa muito gostosa. A onça, que era muito gulosa, foi logo perguntando: -Que é isso compadre coelho, que você está comendo? Respondeu o coelho: -É paçoca de amendoim sinhá onça. Então a onça com água na boca foi logo dizendo: -Paçoca de amendoim? É muito gostoso; se me der um pouquinho deixo você beber água da fonte. -Dou sim, disse o coelho; chegue aqui pertinho que eu ponho na sua boca. Quando a onça chegou perto, o coelho tirou um punhado de areia do saquinho e jogou com força nos olhos da onça. Enquanto a onça urrava de dor, sem poder enxergar, a bicharada aproveitou e tomou banho a vontade e bebeu muita água. Depois de aproveitarem bastante, os bichos foram embora para suas casas.
Passaram dois dias. Estavam todos tão tristes... e muito sujos... e com sêde, quando apareceu o macaco e disse: -Vou lá enganar a onça! O macaco procurou uma pedra redonda, bem branca e a amarrou em um cipó. Subiu em uma árvore e deixou a pedra dependurada pelo cipó. Depois foi para a fonte. Lá chegando, fingiu que estava mastigando alguma coisa. A onça olhou para ele e gulosa como era, lhe perguntou: -Que é isso que você está mastigando, compadre macaco? -Eu? Respondeu o macaco. -Já comi tudo, Era um pedaço de queijo. E a onça: - Que pena, gosto muito de queijo. O macaco aproveitou a conversa e disse: -Olha comadre onça, eu tenho um queijo inteirinho que botei dependurado para curar; se me deixar beber um pouquinho de água eu lhe dou um pedaço. A onça concordou logo. Depois o macaco levou a onça para debaixo da árvore e disse: -Lá está ele; já deve estar macio, fique aqui embaixo para apará-lo, senão esborracha quando cair. O macaco subiu cortou o cipó e a onça abriu bem a boca para comer de uma só vez, pensando que era queijo. Enquanto urrava de dor e se contorcia, a bicharada mais uma vez aproveitou para beber e tomar banho enquanto podia. Depois de satisfeitos, os bichos voltaram, cada um para sua casa.
Passaram dois dias. Estavam todos tão tristes... e muito sujos... e com sêde, quando apareceu o tatu e disse: -Vou lá enganar a onça! O tatu que era um bicho muito sabido, esperou anoitecer e convidou o vaga-lume para ir com ele procurar algo na floresta, levava consigo uma cumbuca com tampa; depois de algum tempo procurando, encontrou: era uma casa de maribondos. Colocou a casa de maribondos na cumbuca, tampou e foram dormir. Na manhã seguinte o tatu seguiu para a fonte levando a sua cumbuca e assoviando. Ao chegar, a onça foi logo dizendo: -Nesta fonte você não entra, ela é só minha, mas... o que é isso que você trás nessa cumbuca? O tatú respondeu: -Aqui dentro eu tenho mel saboroso, mas não lhe dou. A onça pensando no gostinho do mel, disse logo: -Olha compadre tatu, se você quizer pode entrar na fonte e tomar banho e beber água que eu não faço nada. O tatu, então colocou a sua cumbuca num canto e foi para o seu banho. Enquanto isso, a onça mais que depressa pegou a cumbuca e quando tirou a tampa foi atacada pelos maribondos furiosos. A onça saiu correndo e o enxame voando atrás dela e ferroando, enquanto ela urrava de dor e corria.... corria... e continua correndo até hoje.
A paz voltou a reinar entre os bichos que agora tinham de volta a sua tão adorada fonte de água limpa.
E aqui terminou a história. Entrou pela casa do pinto, saiu pela casa do pato. O rei mandou dizer que se você quizer outra, tem que me contar quatro.